A imagem do cadeado foi a única utilizada na nossa composição visual por se adaptar melhor ao tema em termos de comunicação visual e de simbologia.
Comecemos, portanto, com a análise meramente física: esta imagem apresenta uma clara assimetria dos traços e uma irregularidade no padrão, o que dá um certo dinamismo à mesma. De facto, todos os elementos - as linhas e os pontos de intersecção - transmitem uma ideia de confusão, ou até mesmo de profusão, causando uma espécie de distúrbio visual originado pela elevada quantidade de informação. Há também um claro destaque do cadeado perante os outros elementos, quer na forma (simétrica), quer na cor (viva e chamativa). Assim sendo, podemos destacar a antítese, e quase paradoxo, entre o cadeado e outros objetos, aspeto fulcral para a percepção da nossa composição visual. Desta maneira, podemos encontrar vários elementos simbólicos e até mesmo transcendentais na referida imagem: se, por um lado, temos o portão e a corrente , ambos assimétricos e de cores opacas, fracas e tristes, que nos levam a um ambiente antigo, e, de certa forma, macabro, temos, por outro, o cadeado como a "luz no fim do túnel", a solução do mistério e a resposta para as maiores questões humanas. Portanto, o cadeado é toda aquela esperança que existe no coração de todos nós. Afinal de contas, face às peripécias e à dificuldade de viver com o portão fechado, existe sempre, mesmo que muito pequena, a chamada "fé" de encontrar a chave, a chave do cadeado, a chave da verdade, a chave da felicidade. É neste contexto que, agora de acordo com a letra da música, a cidade dá uma razão de viver ao protagonista, pois mesmo sendo triste, solitária e vazia, haverá sempre um espaço misterioso que nos conforta por existir, mas que sabemos que, muitas vezes, nunca vamos descobrir.
Outro elemento fundamental na análise da imagem é a sombra. Ora, com os mesmos traços da corrente e do cadeado, esta assume-se como um "Doppelgänger" (sósia em português). Esta, sob a nossa interpretação, é o lado negativo da esperança, é o reflexo do desgosto após uma vida de ilusões, sob o mistério que procuramos desvendar em vão. Assim sendo, a sombra assume o papel, agora na área da ficção científica, do "eu" malvado num universo paralelo, o oposto do cadeado em si - daí esta ser totalmente negra, ao contrário dos outros elementos que têm uma cor mais florescente. De facto, foi esta sombra que nos levou a escolher, na composição visual, a imagem sombreada de um Homem, pois este, após várias tentativas, não conseguiu encontrar um significado para a sua vida, sobrando apenas o estado depreciativo da incapacidade e do vazio, reforçado pelo seguinte verso da música: "I gave my life away".
De facto, todos nós temos portões fechados e cadeados nas nossas vidas, todos vivemos num purgatório sem conhecer o céu ou o inferno, apenas o meio termo que não passa de um vazio. Alguns portões sabemos que nunca vamos conseguir abrir, e outros que, com muito esforço, podemos conseguir se encontramos a chave que descodifica todo o seu mistério. Há, portanto, uma "magia" por detrás da existência destes portões. Neste caso, a cidade assume o papel de uma orientadora para o caminho da chave, é uma amiga, uma confidente, faz o protagonista se sentir melhor, embora este acabe por desistir. Curiosamente, ao pesquisar sobre o assunto, encontramos uma frase que se encaixa perfeitamente na nossa interpretação da imagem: "Some things are true whether you believe in them or not". O ser humano tem a falsa noção de que sabe tudo, mas não sabe: o nosso conhecimento é tão vasto quanto uma gota de água na imensidão do oceano, vivemos rodeados de portões e cadeados, desvendamos alguns, mas a grande maioria continua trancada a sete chaves. Mais curioso ainda é realçar que esta frase é proveniente de um filme chamado "City of Angels", expressão que o protagonista da música "Under the Bridge" (a música de inspiração) utiliza para falar sobre a cidade que o conforta (Los Angeles, também presente na composição), e, acima de tudo, o compreende. Após tanta filosofia, acho fulcral terminar com a máxima de Sócrates: "Só sei que nada sei".
Em suma, quer na imagem, quer na música ou até na vida, estas simbologias existem e persistem em aparecer. Elas estão presentes em cada dificuldade, em cada obstáculo que encontramos, e cabe a nós ultrapassá-los para chegarmos cada vez mais perto da chave do conhecimento e da felicidade que ainda está por descobrir.