segunda-feira, 9 de abril de 2012

Proposta de trabalho 2 - Análise tipográfica

A tipografia é uma disciplina exercida de uma forma sistemática, metódica e rigorosa: a organização dos seus elementos estruturais básicos em composições funcionais e estéticas qualifica-a como uma arte de escrever. Assim, o objectivo deste artigo é analisar criticamente os elementos da arte tipográfica utilizados num projecto gráfico.

A letra é uma componente essencial no âmbito da tipografia: qualquer trabalho gráfico passa pela selecção e composição de tipos, isto é, conjunto de caracteres tipográficos que constituem um texto impresso. São inúmeros os tipos que integram o universo tipográfico, no entanto, a Helvetica (Fig.1) é a fonte (designação tradicional de tipo) mais inédita: embora considerada “a fonte sem carácter”, é a letra mais viajada do mundo. Para melhor compreensão, é necessário invocar o contexto em que nasceu esta fonte. 
Fig. 1 - Helvetica, a fonte da globalização.
A Helvetica surgiu na década de 50, na conjuntura de recuperação económica após a II Guerra Mundial. A necessidade de um novo lançamento das empresas alemãs e suíças nos mercados internacionais suscitou a procura de uma letra clara, neutral, moderna e apta para boas relações com todos os países e culturas. Desenhada como uma versão modernizada da Akzidenz Grotesk, a Helvetica começou por ser comercializada como Neue Haas Grotesk. A primeira versão, desenhada por Max Miedinger, foi apresentada em 1957, em Lausanne, na Feira graphic 57 e descrita como “bem concebida, equilibradamente discreta e temperada, funcional, suave e fluida”. Em 1961, a Neue Haas Grotesk foi relançada no mercado sob o nome de Helvetica, apresentando uma adição de vários pesos e graus de condensado. Esta fonte suíça sem serifa (tipo de letra sem alargamento terminal) foi a fonte de maior sucesso nos 60 e 70 – a fonte das multinacionais –, destaque resultante da falta de quaisquer qualidades específicas.

Neville Brody (1957-), um dos designers mais conhecidos da geração de 80, teve um papel decisivo na história da Helvetica: aplicou criatividade e inteligência visual a esta fonte, desviando-a do seu aborrecido percurso. Um dos exemplos do seu trabalho gráfico é o presente anúncio realizado para a Nike em 1988 (Fig. 2).
Fig. 2 - Anúncio para a Nike, de Neville Brody. 
À primeira vista, o olho humano capta o peso máximo da letra e o contraste entre a leveza de um Ultra e a agressividade de um Bold. No mundo publicitário, a cor tem o poder sugestivo e persuasivo. Neste caso, a aplicação da cor tem como objectivo influenciar o ser humano, ou o consumidor, no seu desejo de possuir prestígio (branco = pureza), ou de personalidade (preto = força), ou ainda aparência (castanho = solidez). Assim, as garrafais Helveticas e o contraste de cor exercem um impacto instantâneo na percepção humana: as grandes e negras letras são o chamariz para incitar à leitura da composição e, mais tarde, à aquisição do produto por ela divulgado. Ou seja, quando maior o contraste, maior a curiosidade e o interesse.

Brody procurou ultrapassar a falta de personalidade da Helvetica, explorando a sua geometria e dotando-a de movimento, isto é, pondo esta fonte aos saltos (representados pelas palavras bounce, slam, smash). Contudo, tal não afecta a legibilidade e a “lecturabilidade”. Quer isto dizer que o desenho da letra aparece unido ao conteúdo e o dota de personalidade. Esta última é reforçada ainda pela ausência da serifa – a mensagem veiculada é suficiente por si só.

De um modo geral, Neville Brody soube tirar partido da vasta gama de pesos e cores da letra e das suas formas acentuadamente geométricas para traduzir o globalismo e a presença universal da Nike. Afinal de contas, os cortes ultrafinos e os bombásticos ultrafortes têm sido os preferidos para todos os géneros de comunicação.

Bibliografia:
Heitlinger, Paulo. Tipografia: origens, formas e uso das letras, Lisboa: Dinalivro, 2006.
Bacelar, Jorge. A Letra: Comunicação e Expressão, Covilhã, Serviços Gráficos da Universidade da Beira Interior, 1998. 

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